sábado, 22 de maio de 2010

TERESINA E OS CORAIS DE *GRILO

Teresina é hoje uma cidade que vem crescendo, ainda que muito timidamente, na formação e na prática do canto coral. Mas infelizmente a qualidade dos nossos corais, como disse várias vezes um doutor em regência e meu ex-professor da UFPI, para alcançar a mediocridade precisa evoluir em algumas dezenas de vezes do que temos hoje.
E a culpa é da escravidão sofrida pelos coralistas por parte dos regentes e órgãos públicos. O coralista é uma vítima desse sistema de trabalho escravo, já que temos hoje em Teresina (e isso é uma prática antiga), uma cultura de exploração e de abuso por parte de muitos regentes picaretas e aproveitadores que usam de má fé contra centenas de coralistas em dezenas de corais espalhados pela cidade (são corais mantidos pela prefeitura, pelo estado, pelas universidades públicas e particulares, órgãos federais...). Esses “pseudo regentes” como diria um certo doutor em regência, se aproveitam de garotos e garotas que estão começando estudar música, sem experiência e tiram vantagens financeiras e políticas desse pessoal, levando-os para cantar em eventos políticos da prefeitura e do governo do estado pois que, para se manterem em seus postos eles aprendem o “jogo dos ratos”, como disse Raul Seixas e “transam com deus e com o lobisomem”).
Muitas vezes quando eu cantava no coral de UFPI, havia eventos políticos disfarçados de eventos culturais da prefeitura de Teresina. Nós chegávamos ao ponto de ir cantar de graça e ainda ter que comprar uma roupa de tal cor, exigida pelo regente, para tal ocasião. Lembrando que os coralistas do coral da UFPI recebiam (virtualmente) uma bolsa mensal que eu e meus colegas, durante alguns anos em que estivemos lá, recebemos pouquíssimas vezes, mas como o gordo salário do regente caia na conta dele todo mês, implacavelmente, nós que nos ferrássemos. Danem-se!
A lavagem cerebral é tamanha que eles conseguem escravizar esses “pobres inocentes” a ponto de exigirem que eles até paguem para cantar. Porém, conheço muitos regentes digno de admiração por se preocuparem com a remuneração de seus cantores.
Outro fato surreal, inacreditável, cabeludo, escabroso... foi que inventaram de ensaiar a 9ª Sinfonia de Beethoven (o pobre compositor deve ter pedido pra morrer de novo!). Até aí tudo bem! Como diria o nosso “Amador” Campos. Contrataram, a peso de ouro, uma professora de canto da UFPI, encheram os bolsos do regente (o cara rege praticamente todos os corais da cidade. Já pensou, quantas centenas de coralistas trabalhando de graça! Escravidão multiplicada!), pagaram os músicos da orquestra, contrataram um auxiliar de regente que também se dizia tradutor da alemão! rsrsrsrs!, etc, etc. E para os coralistas ofereceram ensaio três vezes por semana e até nos sábados, caderno de ponto para penalizar quem faltasse aos ensaios ou chegasse atrasado, um prejuízo semanal de seis vale-transportes, CDs e DVDs virgem para copiar as partes, "pressão" naqueles que erravam a pronúncia “perfeita” do alemão do regente auxiliar e uma estressante maratona de apresentações para cumprir a agenda política do prefeito da cidade, que banca o regente, o auxiliar, o sem cultura então secretário de cultura e toda aquela gente.
Está na hora dos coralistas de Teresina, a exemplo do resto do país, começarem a se dar valor e exigir salário igual ao do regente, para que assim possam investir na sua formação musical, melhorar a qualidade vocal e poder elevar o canto coral de Teresina a patamares aceitáveis aos ouvidos. Tem-se que questionar quem é mais importante num coral, o regente ou os coralistas? Acho que ambos têm a mesma importância e devem ser tratados de forma igualitária. Está na hora de desbancar essa velha guarda de pensamentos e práticas musicais ultrapassadas que controlam o movimento coral em Teresina e uma nova geração de pessoas de mentes abertas e musicalmente revolucionárias assumirem a batuta sem nenhuma saudade ou herança desse passado negro. Pelo bem da música e dos nossos ouvidos sofridos, é chegada hora da ABOLIÇÃO definitiva dos CORAIS DE GRILOS DE TERESINA!


*segundo as tradições populares, os grilos são os únicos animais que cantam de graça.

domingo, 2 de maio de 2010

BREVES CONSIDERAÇÕES MUSICAIS

Coração de maestro é muito cobiçado para transplante, pelo pouco uso que tiveram.

Sopranos são muito pretensiosas; acham que o resto do coro existe apenas para dar suporte a elas.

Os SOPRANOS são quem canta mais agudo, e por isso pensam que governam o mundo. Elas têm cabelos mais compridos, jóias mais vistosas e saias que fazem barulho ao andar.

Quando um contralto se engana numa nota, ninguém percebe.

Os Contraltos têm imenso tempo para conversar enquanto as sopranos cantam.

Para os baixos as letras são sempre apelativas como por exemplo: plom, plom, puum...
Se o baixo arrotar enquanto canta a platéia pensará que faz parte da música.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A ARTE DA MÚSICA (E sua história)

Quando nasceu a música? Como as primeiras manifestações musicais não deixaram registro é praticamente impossível saber quando foi realmente a origem da música. Ninguém sabe exatamente quando o homem começou a produzir seus primeiros sons musicais.
Não há como se dizer uma data precisa. A História não tem essa função; a de dizer dia, mês e ano desses fenômenos culturais. Há hipótese de que o primeiro som musical que o homem inventou, há milhares de anos, foi batendo num tronco oco de madeira e, gostando do som produzido, dançou ao som das pancadas.
Ao que parece o homem das cavernas usava a música para fins religiosos. Considerava a música um presente dos deuses e dançava e fazia festas para agradecer aos deuses os benefícios recebidos. Nessas festas religiosas ele comemorava as colheitas fartas, a caça, as vitórias nas guerras, etc.
Batendo com um pedaço de madeira em outro o homem inventou o primeiro instrumento de percussão. Mais tarde ele sentiu necessidade de enriquecer esses sons e começou a usar as mãos e os pés para acompanhar o ritmo das pancadas no tronco de madeira.
Os barulhos da natureza fascinavam o homem desse tempo e despertou nele a vontade de imitar esses sons que a natureza produzia (vento, o som das águas, o canto dos pássaros, etc.). Aí o homem começou imitar a voz dos pássaros, o barulho que o vento fazia e os sons dos animais em geral e isso foi sua primeira forma de música cantada ou música vocal. Essas manifestações musicais duraram por muitas e muitas décadas, é que a música é uma arte que evoluiu de forma muito lenta.
Contudo, os atuais conceitos de música consideram que aquelas formas musicais do homem primitivo são muito pobres para ser considerada “arte musical”. Mas do ponto de vista histórico (para a história da música e da humanidade) tais manifestações musicais tiveram uma importância muito grande.
Sabe-se também (isso é indiscutível), que foram os gregos que estabeleceram (desenvolveram) as bases da nossa música. A própria palavra música surgiu na Grécia e significava não somente a arte dos sons como também a poesia e a dança. Os três: som, dança e poesia eram três artes que se uniam numa só e formavam a música. É grega também a expressão música lírica que significa música tocada por um instrumento musical chamado “lira”, e que tinha como característica principal, além da própria música sonora, a poesia.
Assim como os demais povos antigos, os gregos também atribuíam a música como um presente dos deuses. A música, para eles, era uma criação verdadeiramente do espírito e um meio de alcançar a perfeição.
Na Roma antiga a arte da música não foi tão eficiente como na Grécia. A cultura dos romanos era bem menor que sua força econômica; Roma era rica e dominava muitos outros povos, mas possuía pouca criatividade cultural. Quando Roma invadiu a Grécia se apoderou de toda a arte dos gregos. Copiavam a arte grega e a exportavam para o mundo como se fosse uma arte romana. Portanto, Roma apenas copiou, não criou sua própria arte. O que Roma criou, em relação a arte musical foi apenas alguns instrumentos musicais.
NA IDADE MÉDIA: Na idade média a música foi escrava da igreja. Foi, sem dúvida, o período de maior estagnação e atraso da história da música. A música foi impedida de evoluir, sob o controle rígido dos papas da igreja. Os papas decretaram que somente o clero podia utilizar a música; a música era propriedade da igreja e não era permitida que as pessoas na rua, em casa, nas tavernas ou qualquer outro lugar usassem a música de alguma forma. Era excomungado e até condenado à morte quem desobedecesse às leis da igreja de Roma. O clero criou logo sua própria forma de fazer música para demonstrar sua “fé” e seus sentimentos religiosos. Os salmos da Bíblia inspiravam os hinos e os cânticos dessa nova concepção musical e logo os padres e monges se especializaram em trabalhar na arte da música.

MESTRE DEZINHO E A ARTE DA IMORTALIDADE

Satírico e bem humorado. Assim era esse gênio do artesanato piauiense que se destacou levando o nome do nosso estado pelos quatro cantos do Brasil e principalmente fora do país, onde primeiramente ele foi reconhecido como grande gênio que era.
José Alves da Silva nasceu na cidade de Valença do Piauí, em 22 de março de 1916. O cenário daquele nascimento que mudaria a história do artesanato piauiense era igual a muitos outros da época. “Nasci em cima de uma esteira de couro de boi” disse certa vez.
Filho de Dona Antonia Maria da Silva e Aristides Alves de Oliveira, que ao todo tiveram dez filhos, e nem imaginavam que de uma existência pacata e simples daquela família comum surgiria o artesão que ganharia o mundo para projetar o nome de seu estado internacionalmente.
Somente aos dezoito anos começou trabalhar com madeira. Mas como seu pai era carpinteiro, cresceu vendo diariamente seu pai trabalhar nela, moldando as mais diversas peças, como portas, janelas, móveis, etc. Seu trabalho era a fonte de renda para sua sobrevivência. Mas ele não se contentava com a carpintaria e durante muito tempo mestre Dezinho foi conhecido como “Zé padeiro”. Foi ele o responsável pela instalação da primeira padaria da cidade de Valença, a panificadora São José.
Mas apesar da atividade de padeiro, mestre Dezinho, ainda um simples homem anônimo do interior, não deixou de fazer seus contatos com a madeira e confeccionava peças, como; braços, pernas, mãos, cabeças, dedos, etc. para atender a encomendas de pessoas que queriam pagar promessas pela cura de suas doenças. – quem sofria da perna, por exemplo, fazia promessas para algum santo, para curar sua doença e em troca mandava fazer uma perna de madeira para oferecer ao santo como agradecimento. O mesmo acontecia com os outros órgãos do corpo. E mestre Dezinho confeccionava essas peças sob encomendas. Mestre Dezinho teve oito filhos com Francisca de Oliveira, sua esposa. Foi um homem lutador, batalhador e viveu intensamente seu trabalho. Na busca de educação para os filhos, na busca de cultura e novos horizontes, mestre Dezinho chegou em Teresina, trazendo a família, em 1961, e na bagagem trazia dezenas de galinhas e um galo. Foi morar na Rua Simplício Mendes e logo na primeira noite lhe roubaram todas as galinhas e o galo, deixando-o sem nada “Mas eu sempre zombei da vida. É pra frente que a vida anda”. Chegando em Teresina foi trabalhar como vigia na praça da vermelha mas continuava a trabalhar na confecção de suas peças em madeira. Por volta de 1964, mestre Dezinho foi descoberto por acaso. Nem mesmo ele sabia da sua genialidade. Nesse período estava sendo construída a igreja Nossa Senhora de Lourdes e o pároco, padre Carvalho, encomendou, ao mestre, alguns bancos para a igreja. Alguns dias depois o padre vai à casa de mestre Dezinho saber dos bancos e se depara com um verdadeiro arsenal de esculturas em madeira. Eram pés, cabeças, braços, pernas e o padre fica deslumbrado com a perfeição e singularidade das peças. Eram originais como nunca havia visto. Empolgado com tanta beleza o padre encomendou de imediato uma escultura de dois metros de altura: “Você é um artista, mestre. Quero que você me faça um Cristo de dois metros”. Mestre se assusta com a ousadia da encomenda. Jamais havia esculpido um corpo inteiro. Costumava fazer somente as partes separadas (mãos, pés, etc.) “Mas padre, eu só sei fazer separado. Eu nunca juntei essas peças.” Mas aí nascia o estilo de fazer esculturas que nenhum outro artesão havia feito. Mestre fazia peça por peça (braços, mãos, pernas...) e depois juntava e dava forma ao corpo fragmentado. Esta idéia genial foi uma revolução no mundo da escultura. Mestre fez o cristo que o padre pediu e já nessa sua primeira obra chama a atenção dos especialistas pela criatividade que até o próprio Dezinho não imaginava ter. Na hora de montar as peças da escultura tudo ocorria bem “Mas quando chegou a hora de pôr um pé em cima do outro foi engraçado. Eu tentei de todas as maneiras. A madeira não ajudava, acabei desistindo e o Cristo ficou assim mesmo. É original. É o único Cristo crucificado no mundo que tem os pés emparelhados” declara o próprio mestre. No dia da entrega da escultura o padre encomenda mais duas. O Mestre, espantado: “Mas padre, as imagens lá da igreja são tão bonitas, delicadas, finas... o senhor vai querer mesmo trocar aquelas imagens por estas aqui”. Logo vieram as exposições e os prêmios. Suas obras estão espalhadas pelos quatro cantos do planeta. Fez exposições na Tchecoslováquia (República Tcheca), em Milão, em Israel e suas peças estão em museus de arte no México, na França, em Bruxelas e até na África. Nos Estados Unidos suas peças foram expostas em Miami e despertaram a atenção da universidade de Nebraska, que solicitou do governo brasileiro localizá-lo levaram a obra de mestre Dezinho para expor em seis universidades norte americanas. Mas a vida não é eterna aqui na terra e no início do ano 2000, em Teresina, Piauí, morre Mestre Dezinho aos 74 anos de idade dedicados ao trabalho e a seu povo. Mestre Dezinho foi sepultado num caixão esculpido por ele.
Amante da obra de Luiz Gonzaga, mestre Dezinho tinha um desejo: que fosse enterrado junto a ele um aparelho de som (toca-fitas) tocando músicas do Rei do Baião, porém o caixão não coube o aparelho e seu desejo não pode ser realizado.
Sua obra é de uma grandeza imensurável e esse piauiense de Valença está imortalizado em belas obras espalhadas por todo o planeta.
Em Teresina há um bom acervo de obras de mestre Dezinho na Igreja do bairro Vermelha, localizada na Av. Barão de Gurguéia, praça principal do bairro.
Em sua homenagem foi criada a Central de Artesanato Mestre Dezinho, instalada no antigo quartel da Policia Militar do Piauí, localizado na Rua Paissandu, 1276, no complexo cultural da praça D. Pedro II no centro da capital piauiense, onde são realizadas diversas atividades culturais, tais como: feiras de artesanato, shows musicais, uma escola de música, uma escola de dança, lojas para venda de artesanato e atividades culturais em geral.