terça-feira, 27 de abril de 2010

MESTRE DEZINHO E A ARTE DA IMORTALIDADE

Satírico e bem humorado. Assim era esse gênio do artesanato piauiense que se destacou levando o nome do nosso estado pelos quatro cantos do Brasil e principalmente fora do país, onde primeiramente ele foi reconhecido como grande gênio que era.
José Alves da Silva nasceu na cidade de Valença do Piauí, em 22 de março de 1916. O cenário daquele nascimento que mudaria a história do artesanato piauiense era igual a muitos outros da época. “Nasci em cima de uma esteira de couro de boi” disse certa vez.
Filho de Dona Antonia Maria da Silva e Aristides Alves de Oliveira, que ao todo tiveram dez filhos, e nem imaginavam que de uma existência pacata e simples daquela família comum surgiria o artesão que ganharia o mundo para projetar o nome de seu estado internacionalmente.
Somente aos dezoito anos começou trabalhar com madeira. Mas como seu pai era carpinteiro, cresceu vendo diariamente seu pai trabalhar nela, moldando as mais diversas peças, como portas, janelas, móveis, etc. Seu trabalho era a fonte de renda para sua sobrevivência. Mas ele não se contentava com a carpintaria e durante muito tempo mestre Dezinho foi conhecido como “Zé padeiro”. Foi ele o responsável pela instalação da primeira padaria da cidade de Valença, a panificadora São José.
Mas apesar da atividade de padeiro, mestre Dezinho, ainda um simples homem anônimo do interior, não deixou de fazer seus contatos com a madeira e confeccionava peças, como; braços, pernas, mãos, cabeças, dedos, etc. para atender a encomendas de pessoas que queriam pagar promessas pela cura de suas doenças. – quem sofria da perna, por exemplo, fazia promessas para algum santo, para curar sua doença e em troca mandava fazer uma perna de madeira para oferecer ao santo como agradecimento. O mesmo acontecia com os outros órgãos do corpo. E mestre Dezinho confeccionava essas peças sob encomendas. Mestre Dezinho teve oito filhos com Francisca de Oliveira, sua esposa. Foi um homem lutador, batalhador e viveu intensamente seu trabalho. Na busca de educação para os filhos, na busca de cultura e novos horizontes, mestre Dezinho chegou em Teresina, trazendo a família, em 1961, e na bagagem trazia dezenas de galinhas e um galo. Foi morar na Rua Simplício Mendes e logo na primeira noite lhe roubaram todas as galinhas e o galo, deixando-o sem nada “Mas eu sempre zombei da vida. É pra frente que a vida anda”. Chegando em Teresina foi trabalhar como vigia na praça da vermelha mas continuava a trabalhar na confecção de suas peças em madeira. Por volta de 1964, mestre Dezinho foi descoberto por acaso. Nem mesmo ele sabia da sua genialidade. Nesse período estava sendo construída a igreja Nossa Senhora de Lourdes e o pároco, padre Carvalho, encomendou, ao mestre, alguns bancos para a igreja. Alguns dias depois o padre vai à casa de mestre Dezinho saber dos bancos e se depara com um verdadeiro arsenal de esculturas em madeira. Eram pés, cabeças, braços, pernas e o padre fica deslumbrado com a perfeição e singularidade das peças. Eram originais como nunca havia visto. Empolgado com tanta beleza o padre encomendou de imediato uma escultura de dois metros de altura: “Você é um artista, mestre. Quero que você me faça um Cristo de dois metros”. Mestre se assusta com a ousadia da encomenda. Jamais havia esculpido um corpo inteiro. Costumava fazer somente as partes separadas (mãos, pés, etc.) “Mas padre, eu só sei fazer separado. Eu nunca juntei essas peças.” Mas aí nascia o estilo de fazer esculturas que nenhum outro artesão havia feito. Mestre fazia peça por peça (braços, mãos, pernas...) e depois juntava e dava forma ao corpo fragmentado. Esta idéia genial foi uma revolução no mundo da escultura. Mestre fez o cristo que o padre pediu e já nessa sua primeira obra chama a atenção dos especialistas pela criatividade que até o próprio Dezinho não imaginava ter. Na hora de montar as peças da escultura tudo ocorria bem “Mas quando chegou a hora de pôr um pé em cima do outro foi engraçado. Eu tentei de todas as maneiras. A madeira não ajudava, acabei desistindo e o Cristo ficou assim mesmo. É original. É o único Cristo crucificado no mundo que tem os pés emparelhados” declara o próprio mestre. No dia da entrega da escultura o padre encomenda mais duas. O Mestre, espantado: “Mas padre, as imagens lá da igreja são tão bonitas, delicadas, finas... o senhor vai querer mesmo trocar aquelas imagens por estas aqui”. Logo vieram as exposições e os prêmios. Suas obras estão espalhadas pelos quatro cantos do planeta. Fez exposições na Tchecoslováquia (República Tcheca), em Milão, em Israel e suas peças estão em museus de arte no México, na França, em Bruxelas e até na África. Nos Estados Unidos suas peças foram expostas em Miami e despertaram a atenção da universidade de Nebraska, que solicitou do governo brasileiro localizá-lo levaram a obra de mestre Dezinho para expor em seis universidades norte americanas. Mas a vida não é eterna aqui na terra e no início do ano 2000, em Teresina, Piauí, morre Mestre Dezinho aos 74 anos de idade dedicados ao trabalho e a seu povo. Mestre Dezinho foi sepultado num caixão esculpido por ele.
Amante da obra de Luiz Gonzaga, mestre Dezinho tinha um desejo: que fosse enterrado junto a ele um aparelho de som (toca-fitas) tocando músicas do Rei do Baião, porém o caixão não coube o aparelho e seu desejo não pode ser realizado.
Sua obra é de uma grandeza imensurável e esse piauiense de Valença está imortalizado em belas obras espalhadas por todo o planeta.
Em Teresina há um bom acervo de obras de mestre Dezinho na Igreja do bairro Vermelha, localizada na Av. Barão de Gurguéia, praça principal do bairro.
Em sua homenagem foi criada a Central de Artesanato Mestre Dezinho, instalada no antigo quartel da Policia Militar do Piauí, localizado na Rua Paissandu, 1276, no complexo cultural da praça D. Pedro II no centro da capital piauiense, onde são realizadas diversas atividades culturais, tais como: feiras de artesanato, shows musicais, uma escola de música, uma escola de dança, lojas para venda de artesanato e atividades culturais em geral.

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